Se os traumas hereditários existem, como trabalhá-los?
A equipe do site Formação da Canção Nova entrevistou Roseli Cristina Rodolfo, que esclareceu dúvidas sobre traumas hereditários e indicou o caminho para superá-los.
Roseli Cristina é psicóloga clínica, desde 1984, e especialista em Medicina Comportamental pela UNIFESP. Terapeuta e Aconselhadora, ela é formada no Método de Abordagem Sistêmica-Fenomenológica de Bert Hellinger pelo IAG.
Veja a entrevista:
cancaonova.com: O que são traumas hereditários?
Dra. Roseli: Os traumas hereditários estão obviamente ligados a uma sucessão de fatos e acontecimentos difíceis e destrutivos ocorridos na família ou mesmo na vida de antepassados, os quais geram desordem no campo da biogenética.
Atualmente, pesquisas mostram que traumas levam a uma alteração no DNA, ou seja, se nossos antepassados viveram situações difíceis, traumas familiares, fatos de exigente superação, pode ter acontecido uma alteração genética, a qual nos possibilita desenvolver consequências ou sequelas psicológicas e também físicas.
cancaonova.com: O que são doenças psicossomáticas?
Dra. Roseli: São todos os sintomas de doenças que estão ligados à não compreensão, vivência ou absorção das emoções de traumas que não foram elaborados, não conseguiram ser trabalhados. Um exemplo são os mais diversos tipos de alergia, cefaleias, transtornos digestivos ou de ansiedade. Existe uma gama de sintomas que podem se traduzir por doenças psicossomáticas. É sempre uma alteração do nosso psiquismo que tem impacto sobre o físico.
Emoções são reações bioquímicas que têm impacto muito forte sobre nosso organismo. Pode acontecer de, em determinado órgão, a pessoa ter mais fragilidade, vulnerabilidade, e acabe eclodindo uma disfunção, até mesmo uma doença.
cancaonova.com: Podemos dizer que as doenças psicossomáticas têm ligação com traumas hereditários?
Dra. Roseli: Fazemos essa correlação no trabalho de vivência terapêutica que desenvolvo.
Pessoas que passaram por experiências de perdas, mortes, mortes prematuras, acidentes, separações, abandono, abortos provocados, natimortos, se não tiverem as consequências trabalhadas, não entendidas, certamente esses problemas causarão impacto emocional sobre a pessoa que os vivenciou.
Exemplos de reações em decorrência desses acontecimentos são: medo, ansiedade e pânico de pessoas. Se esses sentimentos não forem trabalhados, há grande possibilidade de continuarem na linha de família do indivíduo.
cancaonova.com: Existe tratamento para esse tipo de doença?
Dra. Roseli: O trabalho que realizo ajuda muito, traz um quadro de melhora e solução para pessoas que viveram traumas.
Sou pioneira em Terapia Familiar Sistêmica Fenomenológica no Vale do Paraíba, Estado de São Paulo. Minha equipe e eu trabalhamos basicamente com traumas de família em termos de transgeracionalidade, ou seja, o que nossos antepassados viveram, os acontecimentos difíceis para eles, que ressoam sobre nós emocionalmente. Por exemplo, em casos de vínculos desfeitos e amores que foram rompidos, o fluxo do amor fica bloqueado, pois dentro desse trauma houve certa desordem familiar.
Trazemos luz a esses fatos e procuramos reordenar os acontecimentos difíceis da família que está impactando, bloqueando a vida da pessoa. É uma terapia profunda, porém, breve, em que fazemos uma dinâmica muito importante, na qual descortinamos o que a memória daquela família preserva como dor.
Onde houve a dor há um aprisionamento do amor, que é livre e traz plenitude. A terapia vai no foco, no núcleo onde houve o bloqueio, o emaranhado que domina e não deixa a pessoa no seu lugar, em sua inteireza, em sua plenitude e liberdade. A partir de então, a pessoa consegue liberar amor.
cancaonova.com: Quais cuidados precisamos ter com esses traumas?
Dra. Roseli: Principalmente ter a consciência de que os traumas familiares existem, que eles são uma realidade. Devemos aprender o que eles são e preveni-los, para que não afetem as futuras gerações.
Esse trabalho é muito importante e significativo, fazemos um trabalho de restauração do que já foi; ao mesmo tempo, de prevenção, pois quando trabalhamos o trauma, fazemos com que ele perca a força de influência sobre as gerações futuras.
Imagine uma filha que ficou muito traumatizada com a morte da mãe e carrega isso como dor. Esse vínculo é rompido, o amor é sufocado, essa filha fica com o sentimento de vazio e abandono e não tem forças para dar continuidade à vida.
Reelaborar o vínculo, fazer um movimento de amor de modo que essa filha tome posse do amor da mãe, tenha consciência de que a mãe a ama e está no céu, mas presente nela, porque essa filha é continuidade da mãe, proporciona a essa pessoa continuar levando a vida com a força que a presença da mãe tem dentro dela.
Quando essa pessoa tiver sua própria filha, poderá ficar livre dos sentimentos que a impactaram, poderá olhar para a criança e lhe dizer: “Minha querida filhinha, você tem seu lugar. Mamãe ama você e sua vovó está no céu intercedendo por nós”.
Temos a oportunidade de dar a essa mãe uma continuidade ao vínculo de amor, e ela não ficará com um vazio dentro de si.
Fonte:http://formacao.cancaonova.com/atualidade/comportamento/traumas-hereditarios-existem/